
Era uma tarde de sábado. O zoológico estava vivo, cheio de crianças, com o som das aves misturado à simplicidade de uma morena que me acompanhava. Caminhávamos por aquele imenso ambiente, vendo cada bicho engraçado, nomes que eu não conhecia, afinal, nunca fui bom em zoologia. Me impressionei com o tamanho do leão, pequeno demais para ser chamado de rei da selva.
Eu e minha adorável companhia seguíamos comentando sobre os animais e o recinto em que eles viviam. Me pareceu bem descuidado aquele lugar, água suja, jaula pequena, mas também não sou biólogo para opinar. O que me impressionou foi uma ararinha azul. Sim, aquela em que o mundo quase perdeu, presa em sua gaiola. Me chamou atenção a forma como eu a vi: encostada na grade, com seu bico tentando de alguma forma abrir aquela prisão. Parecia-me que aquela ave não estava feliz, a beleza de suas penas não cobria a tristeza daquele olhar.
Fico me perguntando: como os animais se sentem em uma liberdade que os aprisiona? São astros que estão em seus “palcos” aguardando o seu público que está ali diariamente para vê-los e admirá-los. Mas, no final do espetáculo, os astros continuam presos, eles não vão para “casa”, estão ali prontamente para a próxima apresentação. Às vezes, não aparecem para receber o público, mas ainda estão lá.
O episódio com a arara me faz refletir que talvez liberdade não seja voar, mas sim escolher ficar. No final, talvez sejamos como aquela ararinha: presos em nossas rotinas, problemas, silêncios. Nos sentimos encarcerados quando estamos onde não queremos estar. Quem sabe sejamos, nós também, astros de um espetáculo que fingimos dominar e que, muitas vezes, também nos aprisiona.
